Lula vem aí e tudo será feito para impedir sua eleição

Notícia Geral


Em 2015 a campanha para criminalizar e desconstruir Lula tomou forma e ele anteviu as perseguições, injúrias e violências que sofreria. “Serão três anos de pancadaria, mas eu vou sobreviver”, garantiu ao discursar na reunião do Diretório Nacional do PT no dia 29 de outubro daquele ano. “Se tem uma coisa que aprendi foi enfrentar a adversidades. Podem ficar certos: eu vou sobreviver. E eles, terão lá adiante a credibilidade que hoje imaginam ter?”. Profético. Lula foi acusado de ocultar um sítio e um apartamento que não possui, de disfarçar propinas da OAS com o pagamento da armazenagem de seu acervo presidencial, tornou-se três vezes réu, foi impedido de tomar posse como ministro de Dilma e enfrenta uma implacável perseguição de Sérgio Moro, qualificada por sua defesa como “lawfare”, técnica de perseguição jurídica ao inimigo político, com manipulação do sistema legal para obter sua desmoralização. Por fim, Lula perdeu Marisa, que sucumbiu a um aneurisma no auge da tensão com os processos que ameaçavam Lula, ela e os filhos. Agora ele ressurge liderando as pesquisas para 2018 e seus adversários serão contas no rosário de delações da Odebrecht. Sendo candidato, dificilmente Lula deixará de ser eleito. Desta vez, o que eles farão para impedir que ele volte a governar o país?

O que mais contribui para o crescimento de Lula é o fracasso do programa do golpe, que feriu a democracia, aniquilou a economia, ampliou o desemprego e ameaça os direitos sociais e trabalhistas. Neste sentido, quando mais tempo Temer governar, melhor para Lula, mas pior para o país. Parece haver também, no crescimento de Lula, um fator intangível, que habita a esfera dos sentimentos, dificilmente aferível por pesquisas e sondagens. Algo assim como a compreensão, por uma parte de seus antigos apoiadores, de que lhe negaram apoio em momentos que ele precisou. Por exemplo, quando ele sofreu a condução coercitiva, quando foi impedido de se tornar ministro ou quando Lula, o PT e os movimentos sociais tentaram  realizar grandes protestos contra o impeachment, bradando o “não vai ter golpe”. As manifestações foram grandes mas não suplantaram as da direita, houve o golpe por um Congresso que dizia atender ao clamor popular. Algum arrependimento existe, e guarda algum parentesco com o despertar raivoso da população ao saber que Getúlio se matara. Ele enfrentava uma longa perseguição dos adversários e da mídia conservadora mas não contara com um só grande ato de apoio. Ao saber de sua morte, a multidão tomou as ruas e empastelou os jornais que atacavam Getúlio.

Na morte de Marisa, sim, Lula recebeu muito carinho e apoio, tanto presencial como pelas redes sociais. A morte dela coincide com as evidências de que a Lava Jato não conseguiu provas contra Lula e de que existe óbvia perseguição. Além do mais, o golpe fez água, resultou em desastre econômico e numa enchente de corrupção. Deste reencontro de uma parcela da população com Lula, por razões racionais e também, vamos dizer, emocionais,  vieram os 30,5% de preferência que ele obteve na pesquisa MDA-CNT. Um índice muito aquém dos quase 90% de aprovação com que ele deixou o governo em 2010, mas que vai crescer, quando mais Temer governar. Possivelmente Bolsonaro também vai crescer,  e tenhamos uma disputa clássica entre esquerda e direita em 2018. Os candidatos alinhados com o governo é que dificilmente crescerão. Para isso, precisariam de um milagre na economia e de que a população batesse palmas para reformas que irão castigá-la, como a previdenciária e a trabalhista.

Mal Lula despontou na liderança da primeira pesquisa, vieram as críticas e as armações. Um delegado o acusa de obstrução à Justiça porque foi nomeado ministro embora tenha sido impedido de tomar posse. Lula é acusado de ser o que não foi, de fazer o que não poderia ter feito, obstruir a justiça valendo-se do cargo, e desfrutando do foro privilegiado que lhe foi tirado depois do golpe, na medida em que deixou de ser investigado ao lado de Dilma, que deixou de ser presidente. Muito inepta esta acusação que não resistirá a qualquer exame jurídico mais sério. Mas os três anos de pancadaria previstos por Lula ainda não acabaram e armas mais pesadas ainda serão usadas. O que farão desta vez para evitar Lula presidente?

A hipótese mais banal é a de torná-lo inelegível por uma condenação em segunda instância antes de junho/julho de 2018, quando as candidaturas deverão ser registradas. O tempo é curto para isso e as provas continuam em falta. Se Moro já o tivesse condenado na primeira instância, estaria tudo mais fácil. Mas agora, com Lula na liderança das pesquisas, a ideia de que Moro o condenou para evitar sua candidatura, a serviço dos concorrentes de outros partidos, vai se fortalecer. Não é uma ideia lisonjeira para a biografia de um juiz que já assegurou lugar na História com a Lava Jato e a prisão de figurões da elite que, de outro modo, jamais teriam dormido uma noite numa cela.

A outra hipótese é a de um golpe mais radical, que mergulhe de fato o país na ditadura e cancele as eleições diretas do ano que vem. Quem o perpetraria? Os militares, cujo comandante enxerga no Brasil de Temer um país à deriva? Não considero esta hipótese plausível, apesar dos apelos da extrema direita por uma intervenção militar. Mas se houver um golpe armado, é mais fácil que ele seja para entronizar os militares, como em 1964, do que para garantir a continuidade de Temer. Ou uma eleição indireta. Lacerda e Magalhães Pinto apoiaram o golpe e acabaram por ele cassados. Porque iriam os militares se desgastar com um golpe em favor de uma elite carcomida e afundada em corrupção?  

Mas, se Lula tornar-se de fato candidato, preservadas as regras democráticas, a campanha será uma guerra e todas as armas serão permitidas. Como em 1989, quando Lula perdeu no segundo turno após ataques baixos de Collor (que pagou sua ex-namorada Miriam Cordeiro para acusa-lo de tentar força-la a abortar a filha Luriam) e a manipulação do debate final pela TV Globo. A batalha será sangrenta. Se Lula for eleito, o país ainda estará dividido mas, se ele conseguir restaurar a democracia, o crescimento e o desenvolvimento, como fez em seu governo, acabará conseguindo a reunificação.

“Alguém terá que ser capaz de reunificar o país”, disse Temer pregando o impeachment no ano passado e defendendo a própria posse no lugar de Dilma. O que ele não sabia, com seu limitado currículo democrático, é que a reunificação em horas de crise e cisão só pode ser propiciada por um governante legítimo, e além do mais, exitoso. O dele não dispõe nem de um nem do outro atributo. 

Fonte: Brasil 247