O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta segunda-feira, 24, ao lado do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que não pretende indicar um sucessor e só passará o “bastão” depois de morto. Ele disse ainda que, mesmo inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pode registrar sua candidatura a presidente na eleição de 2026 e deixar que a Justiça Eleitoral defina se ele pode ou não se candidatar.
Segundo Bolsonaro, a estratégia depende de ele não ser condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no caso da tentativa de golpe até o início do processo eleitoral em agosto do próximo ano. A Primeira Turma do STF decide nesta terça-feira, 25, se aceita a denúncia contra o ex-presidente. A tendência é que o julgamento que decidirá se Bolsonaro é culpado ou não seja concluído ainda em 2025.
“Eu só passo o bastão, já falei, Tarcísio, depois de morto. Você sabe disso”, disse Bolsonaro em entrevista ao podcast Inteligência Ltda. O governador de São Paulo é apontado por aliados do ex-presidente como o nome mais competitivo na ausência de Bolsonaro para enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2026. Tarcísio, porém, diz que será candidato à reeleição como governador.
Bolsonaro reclamou da velocidade com que a denúncia da tentativa de golpe tramita no STF. A Procuradoria-Geral da República denunciou o ex-presidente e outras 33 pessoas em 18 de fevereiro. “O certo é eu não ser julgado [até a eleição de 2026] e respeitar os prazos, aos 48 minutos do segundo tempo eu entro com meu registro de candidatura e o TSE em duas semanas decide”, disse Bolsonaro.
Tanto ele como Tarcísio negaram que a presença conjunta no podcast signifique que o ex-presidente escolheu o governador como seu herdeiro político. O chefe do Executivo paulista disse que as pessoas interpretam errado sua “proximidade” e “apoio” e que ele estará junto de Bolsonaro “independente de qualquer interesse”.
“Não é justo tirar o Bolsonaro do jogo. É o cara que me abriu a porta. Meu candidato à presidência da República é Jair Bolsonaro e eu vou ser candidato à reeleição em São Paulo. A gente vai estar junto com Bolsonaro até debaixo d’água. Meu papel é ajudar o presidente até o fim e ajudar o grupo aqui em São Paulo. Não tem passagem de bastão coisa nenhuma. Meu candidato a presidente da República é Jair Bolsonaro e eu sou candidato à reeleição em São Paulo”, declarou Tarcísio.
Na entrevista, Bolsonaro voltou a afirmar que o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) será candidato ao Senado por São Paulo — ele também é cotado como candidato a presidente se o pai continuar inelegível — e que a segunda vaga de senador será escolhida por Tarcísio.
O governador desconversou sobre quem será o indicado e disse que é preciso analisar a viabilidade dos postulantes. Apesar disso, a articulação mais avançada é o lançamento do secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite (PL-SP), como candidato.
Ao lado do governador durante a transmissão do podcast, Bolsonaro disse que “só passará o bastão depois de morto” e que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) será seu nome para o Senado pelo Distrito Federal. O ex-presidente afirma que será candidato em 2026 e não apoiará outro nome na disputa pelo Planalto.
— Tenho bons advogados. Que vão, em um primeiro momento, explanar uma questão de tecnicidade. Meu fórum é primeira instância. Há poucas semanas, o STF disse que seria última instância. E se decidirem que seria a última instância, teria que ser o plenário todo, e não uma Turma — argumentou.
O governador também afirmou que seria testemunha de defesa de Bolsonaro, caso convocado, no julgamento da suposta trama golpista:
— Eu tenho liberdade de falar com o presidente (até coisas que ele não gostaria de ouvir). Quando me perguntaram se eu seria testemunha de defesa de Bolsonaro, eu disse claro. Por uma razão simples: acompanhei Bolsonaro durante a presidência dele, e tive o privilégio de ser um dos ministros mais próximo do presidente. Nunca vi o presidente arquitetando algo fora da Constituição — afirmou Tarcísio.
Segundo o governador, o Republicanos vai apoiar o projeto que pede anistia aos presos do 8 de janeiro por ser uma “questão humanitária”.
— Anistia é um remédio político, que já foi usado outras vezes — defendeu Tarcísio.
Mais cedo, o presidente do PSD e secretário estadual de Governo em São Paulo, Gilberto Kassab, admitiu a possibilidade de disputar o Palácio dos Bandeirantes, caso o governador decida concorrer à Presidência da República e ele tenha seu aval.
— O candidato em São Paulo é o Tarcísio, e o meu candidato será o dele. Caso ele decida disputar a Presidência e avalie que o meu nome é o mais adequado, eu aceito a missão — afirmou Kassab à CNN Brasil nesta segunda-feira.