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Diante da divulgação da lista de alvos de inquérito da Lava Jato e dos vídeos com depoimentos de delatores da Odebrecht, deputados querem acelerar a tramitação da reforma política na Câmara.
A aceleração facilita a aprovação de questões polêmicas, como a mudança de sistema eleitoral, e promove uma agenda positiva para o Congresso, que tem 39 deputados e 24 senadores como alvos de inquéritos autorizados pelo relator da Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Edson Fachin.
“Quem aposta na lista de Fachin para não se aprovar a reforma vai bater com a cara na parede. Ao contrário, o Congresso vai agilizar [a tramitação] para mostrar à sociedade que não está parado por questão de lista”, afirma Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), presidente da comissão que discute a reforma.
Segundo delatores, Vieira Lima recebeu R$ 1 milhão do departamento de propinas da Odebrecht para defender interesses da empresa no Congresso, o que ele nega.
Assim como Vieira Lima, o relator da reforma, Vicente Cândido (PT-SP), também é alvo de investigação por, segundo delatores, ter recebido R$ 50 mil em troca de apoio para encontrar uma solução para financiar o estádio do Corinthians.
“É preciso deixar claro que este momento político clama por uma reforma política de fôlego, pede por mudanças na maneira em que fazemos política no Brasil. Desta maneira, aproveito o momento para fortalecer este debate”, disse Cândido em nota ao se manifestar sobre a abertura de inquérito para investigá-lo.
LISTA FECHADA
A comissão da reforma política volta a se reunir na terça-feira (18) já para discutir o relatório de Cândido, etapa que antecede a votação no colegiado. Depois, o texto segue para plenário. Se aprovado, tem que ir ainda ao Senado.
Sob o argumento de que as campanhas se tornariam mais baratas, Cândido defende em seu parecer a lista fechada, modelo no qual o eleitor vota em um conjunto de políticos, não em candidatos isolados. Cabe à direção de cada sigla indicar quem assumirá as cadeiras.
Críticos do modelo dizem que ele aumenta as chances de reeleição dos atuais parlamentares, inclusive daqueles enrolados com a Lava Jato.
Alguns deputados, porém, dizem não haver clima para levar adiante a aprovação desse sistema e defendem o “distritão”, onde os candidatos mais votados são os eleitos não havendo os chamados “puxadores de voto”.
“Zero chance. Os deputados não vão votar a lista fechada. Se os cardeais querem, os párocos, que são maioria, não querem”, avalia o deputado Fábio Ramalho (PMDB-MG), primeiro vice-presidente da Câmara.
“Não existe credibilidade deste Parlamento para aprovar qualquer matéria sem que ela passe por referendo popular”, diz Julio Delgado (PSB-MG).
A consulta popular seria uma alternativa à convocação de uma Assembleia Constituinte, o que Delgado diz ser difícil de realizar por questão de tempo. “Temos que fazer com que os nossos ‘atuais constituintes’ deleguem ao povo aquilo que decidam.”