Um em cada 4 brasileiros não tem acesso a coleta de esgoto

Política

 

Dados do Censo 2022 sobre saneamento básico evidenciam desigualdade social. Negros, pardos e indígenas são os mais afetados por falta de serviços básicos como água potável e coleta de lixo.Dados do Censo 2022 divulgados nesta sexta-feira (23/02) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que 90,9% da população brasileira conta com serviços de coleta de lixo, 96,9% têm acesso a água potável e 75,7% vive em domicílios com esgotamento por rede coletora ou fossa séptica.

Embora todas as categorias apresentem melhoras em relação ao Censo 2010, os dados revelam um abismo social entre brasileiros de acordo com a região em que vivem, a cor da pele e a idade que têm.

De acordo com o Censo 2022, as pessoas de cor ou raça amarela, seguidas das de cor ou raça branca, tiveram as maiores proporções de conexão a redes de serviços de saneamento básico e maior índice de presença de instalações sanitárias nos domicílios. Por outro lado, as de cor ou raça preta, parda e indígena apresentaram as menores proporções.

“Esse panorama está ligado à distribuição regional dos grupos, com presença maior da população de cor ou raça preta, parda e indígena no Norte e Nordeste, regiões com menor infraestrutura de saneamento. Em todos os 20 municípios brasileiros mais populosos, a população de cor ou raça branca tem mais acesso a abastecimento de água, esgotamento sanitário e coleta de lixo do que a população de cor ou raça preta, parda e indígena”, explica o analista do IBGE Bruno Perez.

Outra clara diferença está na idade. Em 2022, as faixas etárias mais jovens apresentaram maior incidência de situação de precariedade no acesso a saneamento básico. Por exemplo: na população entre 0 e 4 anos, 3,4% residiam em domicílios sem canalização de água – no grupo com 60 anos ou mais, essa proporção era de 1,9%.

Quase 50 milhões de pessoas não têm esgoto

A proporção de domicílios com acesso à rede de coleta de esgoto no Brasil chegou a 62,5% em 2022, quase 10 pontos percentuais a mais que em 2010 (52,8%) e 18 a mais que em 2000 (44,4%).

De acordo com o levantamento, as duas soluções de esgotamento sanitário mais comuns no Brasil são por rede geral ou pluvial (58,3%) e fossa séptica ou fossa filtro não ligada à rede (13,2%), solução individual considerada adequada pelo Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB). Além disso, fossa séptica ou fossa filtro ligada à rede representa 4,2%.

Apesar do aumento, 49 milhões de pessoas, ou seja, 24,3% da população, vivem em 16,4 milhões de domicílios com recursos precários de esgotamento sanitário.

“Entre os serviços que compõem o saneamento básico, a coleta de esgoto é o mais difícil, pois demanda uma estrutura mais cara do que os demais. O Censo 2022 reflete isso, mostrando expansão do esgotamento sanitário no Brasil, porém com uma cobertura ainda inferior à da distribuição de água e à da coleta de lixo”, explica Perez.

Para 19,4% da população, a “fossa rudimentar ou buraco” ainda é a forma de esgotamento sanitário. Além disso, 2% têm esgotamento diretamente em rio, lago, córrego ou mar, 1,5% por vala e 0,7% por outras formas.

A região Sudeste é a que apresenta a maior parcela da população morando em domicílios com coleta de esgoto: 86,2%. No sentido oposto está a região Norte, onde são apenas 22,8%. Entre as unidades da federação, os destaques no lado positivo e no negativo foram, respectivamente, São Paulo (90,8%) e Amapá (11,0%).

Quanto menor a cidade, menor o acesso à rede de esgoto: nos municípios com até 5 mil habitantes, apenas 28,6% deles viviam em domicílios com coleta de esgoto. Esse número sobe gradualmente, até atingir 83,4% nos municípios com mais de 500 mil habitantes. O mesmo ocorre com a coleta de lixo: quanto maior a cidade, mais difundida e acessível ela é.